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Plantão Médico em Voo

    Prestar atendimento médico de urgência no avião, em vôo

    Plantão Médico em Voo: O Que Fazer e Quais São as Responsabilidades do Médico?

    Médicos que viajam como passageiros podem, a qualquer momento, ser chamados para prestar atendimento a bordo de um avião. A frase “Há algum médico a bordo?” pode colocar o profissional diante de uma situação delicada, na qual a decisão de agir ou não precisa ser tomada rapidamente.

    Mas quais são as obrigações legais e éticas de um médico nessa situação? Ele é obrigado a prestar atendimento? Há riscos jurídicos? Pode ser responsabilizado se algo der errado? Neste artigo, abordarei essas questões, explicando o que diz a legislação e como o médico deve se portar ao atender um paciente em pleno voo.

    O Chamado para Atendimento a Bordo

    Emergências médicas durante voos comerciais são raras, mas quando ocorrem, exigem uma resposta rápida. A tripulação de cabine é treinada para lidar com situações básicas de saúde, mas nem sempre pode oferecer o suporte necessário. Por isso, quando há um caso mais grave, é comum que um comissário pergunte aos passageiros se há algum médico presente.

    Nesse momento, o profissional precisa considerar não apenas sua vontade de ajudar, mas também aspectos éticos e legais, além dos riscos envolvidos.

    O Médico é Obrigado a Atender?

    No Brasil, não existe uma obrigação legal explícita que obrigue um médico a prestar atendimento durante um voo. No entanto, essa questão deve ser analisada sob duas perspectivas principais:

    1. Código de Ética Médica – O médico tem autonomia para decidir se prestará ou não atendimento, desde que sua recusa não coloque a vida do paciente em risco.
    2. Código Penal Brasileiro – O artigo 135 do Código Penal estabelece que a omissão de socorro pode ser considerada crime se alguém deixar de prestar assistência a quem está em perigo iminente, desde que possa fazê-lo sem risco pessoal.

    Ou seja, se o paciente estiver em situação grave e não houver ninguém mais qualificado para ajudar, o médico pode ser responsabilizado por omissão de socorro caso se recuse a agir.

    O Que Fazer Caso Decida Atender?

    Se o médico optar por prestar atendimento, algumas medidas são essenciais para garantir a segurança do paciente e do próprio profissional:

    1. Identificação Profissional – Se possível, o médico deve apresentar algum documento que comprove sua identidade e sua qualificação, como carteira do CRM.
    2. Registro do Atendimento – Tudo o que for feito deve ser anotado, incluindo os sintomas do paciente, os procedimentos realizados e os recursos disponíveis. Isso pode ser fundamental caso haja questionamentos futuros.
    3. Atuação Dentro da Especialidade – O médico deve agir dentro de seus conhecimentos e limitações, sem realizar procedimentos para os quais não esteja capacitado ou que exijam equipamentos que não estão disponíveis no voo.
    4. Coordenação com a Tripulação – A equipe da aeronave pode fornecer informações sobre o estado do paciente e os materiais disponíveis no kit médico de bordo. Além disso, a tripulação pode entrar em contato com médicos em terra para orientações adicionais.
    5. Recomendações Finais – Dependendo do caso, pode ser necessário recomendar que o paciente procure um hospital assim que pousar.

    Responsabilidade Civil e Penal do Médico

    Um dos principais receios dos médicos ao prestar atendimento em voo é a possibilidade de sofrer processos caso algo dê errado. Aqui estão alguns pontos importantes sobre esse tema:

    1. Responsabilidade Civil

    A responsabilidade civil do médico está atrelada à ocorrência de erro ou negligência. Em um voo, o atendimento é emergencial e realizado em condições adversas, sem todos os recursos de um hospital. Por isso, é muito difícil que um médico seja responsabilizado por um resultado desfavorável.

    2. Responsabilidade Penal

    No âmbito penal, o maior risco seria a omissão de socorro. No entanto, se o médico se recusar a atender por falta de segurança, por não estar em condições adequadas (Exemplo: sob ingestão de bebida alcoólica ou sob efeito de medicação para dormir) ou por não se sentir apto, dificilmente será responsabilizado.

    3. Responsabilidade Ética

    O Conselho Federal de Medicina (CFM) e os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) avaliam cada caso individualmente. Se o médico agiu conforme suas capacidades e dentro das limitações impostas pelo ambiente, não há motivo para punição ética.

    Existe Alguma Recompensa Pelo Atendimento?

    As companhias aéreas geralmente equipam suas aeronaves com kits médicos contendo itens básicos para primeiros socorros. No entanto, a disponibilidade e a composição desses kits podem variar entre as empresas. A tripulação é treinada em suporte básico à vida, mas a presença de um médico pode ser determinante em situações mais complexas.

    Diferente do que ocorre em hospitais e clínicas, onde o médico recebe honorários pelo seu trabalho, o atendimento em voo é voluntário. Algumas companhias aéreas oferecem pequenos benefícios, como:

    • Agradecimentos formais;
    • Milhas de cortesia;
    • Vouchers de desconto para futuras viagens;
    • Upgrades de classe.

    Porém, não há obrigação legal de que o médico seja recompensado financeiramente pelo serviço prestado.

    O Médico Pode Negociar Honorários?

    Ainda que a prática não seja comum, o médico pode tentar um acordo financeiro com o paciente atendido ou até mesmo com a companhia aérea. No entanto, esse tipo de negociação não é padronizado e depende da política da empresa.

    Dicas Finais para Médicos que Viajam de Avião

    1. Conheça seus direitos e deveres – Saber como agir em uma emergência a bordo pode evitar problemas futuros.
    2. Esteja preparado – Se costuma viajar com frequência, pode ser útil ter acesso à legislação médica e diretrizes éticas em situações de urgência.
    3. Não se sinta pressionado – Se não se sentir seguro para atender, é seu direito recusar.
    4. Registre tudo – Se decidir prestar atendimento, documente o que foi feito. Isso pode proteger você em caso de questionamentos futuros.

    A legislação brasileira não estabelece regras rígidas para esses casos, mas a ética médica e o bom senso devem guiar a decisão do profissional. Prestar socorro é um ato humanitário, mas deve ser feito de forma responsável e com a devida segurança jurídica.

    Se você é médico e deseja orientação sobre suas responsabilidades em situações como essa, entre em contato com um advogado especialista no Direito do Médico. O profissional estará à disposição para esclarecer dúvidas e oferecer suporte jurídico de qualidade.

    Fontes:

    Ter uma assessoria jurídica especializada é essencial para te proteger nos momentos cruciais que podem custar, infelizmente, sua carreira!
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